Governança Corporativa e Familiar – Necessidade urgente para os produtores

Antes de montar este artigo, fiquei um tanto pensativo sobre o que iria escrever. Foi a mim designada a tarefa de falar sobre um tema muito importante, em termos de perenidade dos negócios – a governança corporativa e familiar, no âmbito do agronegócio.
Eu poderia falar dos pressupostos de governança nas organizações ou mesmo das ferramentas amplamente utilizadas no mercado. Nem um nem outro. Também poderia falar das grandes empresas, com ações listadas em bolsa e com níveis de governança corporativa diferenciados e normatizadas em políticas, como é praxe.
Foi desse mundo que eu migrei para o agronegócio em meados de 2018, após doze anos trabalhados no setor elétrico, em uma empresa muito bem organizada sob a ótica de governança corporativa. Todos os relatórios e os documentos, elaborados e auditados, em conformidade com a legislação e a vontade dos fundos de investimentos.
Fundos de investimentos? Como assim? O que eles têm a ver com a governança corporativa e familiar? Eles executam um papel de extrema importância na economia, que é o fomento de crédito às empresas.
Os fundos de investimento costumam alocar recursos em empresas bem organizadas, de fluxos de caixa previsíveis e com fácil acesso as informações financeiras e não financeiras. Tudo isso é analisado na hora de uma tomada de decisão. E convenhamos: é muito fácil uma tomada de decisão nessas empresas bem estruturadas, com boas práticas reconhecidas pelo mercado e com relativa transparência.
Um exemplo que pode ser dado é a questão do plano de sucessão. Em uma empresa, a diretoria executiva era vista como um dos pilares relevantes para que o mercado pagasse um prêmio excedente em relação ao valor justo das ações da companhia. Em outras palavras, os fundos de investimento alocaram mais capital do que precisava nessa companhia, visto a confiança que a alta administração transmitia aos agentes de mercado.
Em um contexto de mudança do principal diretor (o que é natural), houve um certo temor de que o sucessor não estivesse preparado para continuar a boa gestão do antecessor. Na prática, o que se viu foi uma boa performance, o que sustentou o valor da companhia nos mesmos patamares – os fundos de investimento continuaram firmes e fortes acreditando no crescimento da empresa.
Traçando um paralelo com os produtores rurais, isso também acontece. Eles, assim como qualquer outra empresa, dependem (demasiadamente) do crédito disponibilizado pelas instituições financeiras para financiar a compra de insumos e equipamentos necessários para o ciclo de produção de suas culturas. Entretanto, esse é um modelo baseado em garantias reais de valor finito, ou seja, há limites de recorrência.
Em virtude disso, os produtores rurais têm sofrido para manter a sustentabilidade financeira de seus negócios sem as concessões de crédito por parte dos financiadores tradicionais, que por sua vez estão cada vez mais exigentes em relação as garantias de quitação da dívida.
É necessário ter um bom balanço patrimonial para fazer jus a uma concessão de crédito e assim sucessivamente, item que a maioria dos produtores não tem, bem como não são organizados do ponto de vista administrativo e de governança corporativa e familiar.
Esse descontrole é um enorme gargalo para a perenidade dos negócios dos produtores. Hoje em dia, há uma vasta gama de novos financiadores de crédito, com modalidades inovadoras às tradicionais, com melhores taxas de juros e prazos. Atrelado a isso está a necessidade de eles reverem seu modus operandi de gestão e na necessidade de preparar os sucessores que continuarão a missão de tocar o negócio da família.
Uma boa governança corporativa e familiar pode fazer a diferença na tomada de decisão de aporte de recursos de um fundo de investimento ou instituição financeira.
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