Gestão financeira em Empresas Familiares

Sabemos que as empresas familiares têm importante participação na economia do nosso país. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 90% das empresas no Brasil têm perfil familiar. Essas empresas representam cerca de 65% do nosso Produto Interno Bruto (PIB) e empregam 75% dos trabalhadores brasileiros.
No entanto, as empresas familiares enfrentam inúmeros desafios particulares a elas, inclusive no que se refere à gestão financeira do negócio. A gestão financeira compreende o conjunto de atribuições do gestor financeiro, que é o profissional responsável por realizar diversas atividades financeiras, como: planejamento, políticas de crédito e avaliação de investimentos.
Uma gestão financeira eficiente é fundamental, não somente para que a empresa obtenha os resultados desejados em termos de lucro/maximização da riqueza. É também necessária para garantir que ela tenha a sua disposição todos os recursos de que necessita em suas operações. No entanto é comum que questões familiares influenciem a dinâmica do negócio. Outro aspecto comum são os conflitos entre gerações.
Trabalhei por seis anos em uma empresa comercial familiar de pequeno porte no interior do Estado do Rio de Janeiro. Pude observar como família e empresa se misturavam, principalmente no que se refere às finanças. Não houve, por muito tempo, separação entre finanças empresariais e familiares (aliás, algo comum não só em empresas familiares, mas nelas inclusive) e, com isso, não havia real entendimento de quanto o negócio custava, quanto a família custava, quanto o negócio lucrava e qual era a remuneração de cada membro da família envolvido na empresa.
Aliás, existe um princípio contábil que versa exatamente sobre isso: o princípio da entidade. De acordo com esse princípio, não se deve confundir o patrimônio da empresa com o patrimônio de seus proprietários, sendo necessária a separação entre as contas pessoais e empresariais. De modo contrário, a gestão financeira do negócio fica comprometida, impedindo que se tenha indicadores e informações importantes para sinalizar a situação do negócio e orientar a gestão financeira.
Também pude presenciar um conflito de gerações: enquanto o patriarca da família havia vivenciado um tempo em que as relações comerciais eram bastante baseadas na confiança entre as pessoas, a nova geração entendia a necessidade de ter processos de gestão (principalmente financeira) mais formais, para garantir a sustentabilidade do empreendimento.
As diferentes gerações da família envolvidas no processo de decisão precisam alinhar a experiência dos membros com maior vivência do negócio com as mudanças que as gerações mais jovens desejam implementar. A junção da experiência com a inovação pode trazer resultados significativos para os negócios. Na mesma medida em que a bagagem precisa ser valorizada, também é necessário que se tenha abertura para discutir e experimentar o novo.
Portanto, sendo as empresas familiares tão relevantes para nossa economia, sua gestão financeira precisa estar atenta ao que de melhor cada geração envolvida pode trazer para direcionar a empresa para bons resultados, além de priorizar a separação entre família e empresa. Estabelecer uma retirada mensal de acordo com a atividade exercida por cada membro da família que atua no negócio é uma das ações que podem ser feitas para dar início a esse processo.
REFERÊNCIA
GITMAN, Lawrence J. et al. Princípios de administração financeira. 2010.
PWC. Empresas familiares e plano de sucessão. Disponível em:https://www.pwc.com.br/pt/sala-de-imprensa/artigos/empresas-familiares-e-plano-de-sucessao.html. Acesso: 05 nov. 2021.
IOB. O que é o principio da entidade. Disponível em: https://www.iob.com.br/noticiadb.asp?area=contabil¬icia=41106. Acesso: 05 nov 2021.
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